Como e quando revelar ao filho que ele é adotado?




A doutora em psicologia e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Lídia Weber, estará em Xanxerê na quinta-feira, dia 25, para palestrar na comemoração do Dia Nacional da Adoção, uma realização do Grupo de Estudo e Apoio à Adoção de Xanxerê (Geaax) – Amigos da Criança. Com o tema “A criança que será sua filha”, a programação iniciará às 19h30, na Unoesc, auditório do Bloco E.
Segundo a doutora Lídia, a palestra oferecerá informações sobre o que esperar do processo de adoção e também uma série de aspectos motivacionais. “Mas, mais do que isso, aspectos que precisamos refletir sobre a vida, parentalidade, acolhimento e idealização de um filho”, argumenta ela.
Para a psicóloga, há aspectos indispensáveis para alguém que decide adotar uma criança: preparação prévia: informações e preparação psicológica sobre a adoção, tanto para adoções por motivo de infertilidade como por altruísmo; revelação precoce da adoção para a criança; conversar sobre adoção e sobre sua história com o filho adotivo e não fingir que isso não existe; respeitar o filho se ele quiser mais detalhes sobre a sua família de origem; preparar a família extensa, tios, avós, sobre a adoção para que não seja surpresa, diminuindo assim o risco de discriminação; falar disso e sentir-se confortável diante de estranhos e amigos; desenvolver habilidades parentais e práticas educativas que favoreçam o desenvolvimento da criança (como em qualquer família), como não superproteger demais, não usar punição física, não ser negligente, participar na vida dos filhos.
Lídia considera que os adotantes devem aprender a lidar com a comunidade e ter até um papel educativo ao mostrar e falar da adoção. “Sempre lembrando que o filho não é adotado, um filho foi adotado, é um processo passado, depois ele é simplesmente filho!”.
Como e quando revelar que o filho é adotado?
Entre os temas da palestra, a psicóloga Lídia abordará a revelação tardia ou inadequada (feita por terceiros). Para ela, a revelação precisa ser feita desde que a criança chega na família adotiva, mesmo que ela seja um bebê. Os pais devem adotar constantes conversas sobre o tema, nas diferentes fases da vida da criança. “Filhos não saberem absolutamente nada de suas histórias de origem pode gerar desconforto com suas histórias se os pais não permitirem que elas conversem sobre isso com eles”, avalia.
O questionamento se os pais devem ou não contar ao filho que ele foi adotado sempre é uma preocupação, e para esta questão, a profissional deixa claro: “Sim, com todas as letras maiúsculas, sempre, e mais do que contar, deve-se falar do tema quando e como o filho quiser. É uma parte da história de vida que ele não conhece, que tem dúvidas e pode sofrer se ninguém conversar com ele sobre isso”.
Sobre os detalhes mais difíceis da história, Lídia argumenta que a revelação é desnecessária, para evitar sofrimento. “Não acho necessário detalhes absurdos. Muitas vezes os pais sabem detalhes e acabam contando para mostrar como a família de origem era ruim, e podem nem ter consciência que o fazem por este motivo. A criança tem o direito de saber de sua história, mas não detalhes escabrosos. Por exemplo, se ela foi tirada da família por maus tratos, isso pode ser dito, mas que foi abusada com um ano de idade ou foi deixada embaixo de um caminhão, não é necessário”.
De acordo com a psicóloga, a criança deve incorporar em sua história a palavra adoção como algo bom. “Dados empíricos registram que a revelação tardia ou inadequada são os maiores causadores de problemas nas famílias por adoção. Precocemente a criança incorpora sua história e a adoção como algo bom; devem haver sempre conversas e diálogos sobre o tema, pois a criança vai compreender diferentemente a medida que ficar mais velha”, explica.
Lídia relata que a revelação na adolescência é uma das mais dramáticas, pois está vinculada a uma fase por si só difícil e de profundas transformações e dúvidas.  “Em relação à revelação tardia, muitos estudos mostram que ela se associa com futuros problemas de comportamento da criança, prejuízos psicológicos ou acadêmicos e perda de confiança nos pais. No entanto, o procedimento de os pais revelarem a adoção e o processo de a criança compreender a origem são complexos e devem ser abordados de forma sistemática e contínua em diferentes idades da criança. A revelação precoce não assegura, necessariamente, que a criança compreendeu o que foi revelado a ela, portanto há necessidade de repetição das conversas  sobre a adoção ao longo de todo o desenvolvimento do filho adotivo”.
Veja dicas abaixo do livro “Adote com carinho”, de Lídia Weber, editora Juruá:
QUANDO CONTAR
A adoção deve ser incorporada ao nosso pensamento como uma outra maneira de formar uma família, não necessariamente em segundo lugar e, assim, ela passará a ser compreendida simplesmente como um modo diferente de formar uma família e não como algo ruim. A história de adoção não deve ser contada somente ao filho, mas aos parentes e amigos próximos.
Dessa forma, não deve existir um “momento” especial para contar, mas o assunto deve ser colocado na família e para a criança de maneira aberta, DESDE SEMPRE, até mesmo antes de sua linguagem verbal formal.
A criança compreende a adoção de maneira diferente, dependendo de sua idade e fases do desenvolvimento, por isso a revelação não deve ser feita uma única vez. Ela deve perceber que os pais sentem-se confortáveis e seguros em relação à adoção.

COMO CONTAR
Utilizar a palavra “adoção” de maneira regular, “desde sempre” para a criança possibilita que ela nunca se tornará um tabu. Mesmo o bebê, embora não entenda a linguagem formal, passa a incorporar as atitudes que os pais têm em relação ao mundo.
Contar historinhas de adoção, de como algumas pessoas passam de uma família para outra. Com a idade de aproximadamente dois anos, a criança já é capaz de ouvi-las com interesse. Nem sempre o saber significa compreender, por isso “o contar” deve ser sistemático.
Criar um livro de memórias e mostrar sempre para a criança, desde bebê: como foi o encontro, qual era a roupa, em que cidade, qual a idade exata que ela tinha, quais pessoas estavam presentes etc., pode facilitar essa compreensão.

O QUE CONTAR
Se a criança perguntar claramente se nasceu de sua barriga, deve-se dizer claramente que não, que ela nasceu da barriga de outra mulher, mas foi adotada por esta família. Quando a criança é muito pequena, não é preciso entrar em detalhes sociais. Com a passar do tempo, percebe-se o que a criança quer realmente saber. No começo ela nem vai ligar para a situação se souber muito cedo; algumas crianças podem ter reações após sete ou oito anos, ou na adolescência, mas a maioria que soube muito cedo, simplesmente incorporou isso a sua história de vida.
Enfatizar para o filho que não há nada de errado com ele: explicar que ele foi dado para adoção porque seus pais biológicos não puderam criá-lo naquele momento de suas vidas. Isso não é culpa dele e ele não fez nada de errado. Não se deve falar mal de sua família de origem: é a sua única referência histórica e ele vai carregá-la por toda a sua vida.
Afirmar que a adoção é “para sempre” e que você jamais vai dá-lo para outra pessoa: o seu compromisso é para toda vida.
Não se deve ressaltar ao filho adotivo que ele foi entregue para adoção “por amor”; quando pequeno, ele pode ficar confuso e pensar que se a família adotiva o ama tanto, também pode dá-lo para outra pessoa.
É imprescindível, afirmar, que ele sempre foi muito desejado pela família adotiva.





Sugestões enquanto se espera um filho por adoção (do livro “Adote com Carinho”)
  • Escreva uma definição de adoção. Peça para seu(sua) companheiro(a) ou familiares escreverem também, bem como seus familiares; crianças podem desenhar. Comparem e conversem sobre o significado de adotar um filho.
  • Faca a sua própria lista do que você acha que deve aprender, compreender, fazer, antes da chegada do seu filho;
  • Converse com famílias e amigos próximos sobre suas expectativas;
  • Frequente um Grupo de Apoio à Adoção e faça uma verdadeira preparação para fazer parte de uma família por adoção;
  • Leia livros, histórias de famílias por adoção, converse com outras famílias, participe de grupos da Internet;
  • Determine um período de tempo todos os dias para escrever, pelo menos 15 minutos; Inicie relacionando atividades triviais ou aquelas ligadas com o processo adotivo, como telefones, leituras feitas, visita do Serviço Social etc.;
  • As pessoas usam atividades diferentes, tais como diário em papel, scrapbookblog, arquivo digital etc. Não esqueça de definir o que será mostrado para seu filho, o que será revelado a outros e o que tem a ver com a sua privacidade. Você pode fazer diários diferentes;
  • Sinta-se livre, você não está escrevendo uma matéria acadêmica, não se preocupe em errar, rabiscar, escrever de novo. Essa será o início da historia do seu filho! Escreva sobre os seus sentimentos, o que você fez durante o dia, o que ocorreu de importante no dia, na semana, no mês, o quanto você pensou em seu filho! Pense o quanto o seu filho ficará feliz ao saber que foi tão desejado e esperado!

FONTE: FocaNaNotícia


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