ABANDONADOS, NOVAMENTE
Apesar de mais exigências de preparação dos pais e melhora na avaliação de quem pode ou não adotar, “devolução” ainda ocorre
Publicado em 22/05/2012 | Bruna Maestri Walter
Recentemente, um casal de Minas Gerais foi condenado na Justiça pelo abandono de um garoto. Adotado aos 4 anos, o menino foi devolvido dois anos depois. Em abril deste ano, uma sentença judicial impôs aos pais o pagamento de 15% do salário mínimo de pensão alimentícia e R$ 15 mil por danos morais à vítima, que atualmente está com 17 anos e continua vivendo em um abrigo.
Reflexão
O sucesso de um processo de adoção depende de algumas medidas, segundo os especialistas:Procure profissionais da área da adoção. Converse com eles, troque ideias, pergunte sobre os prós e contras relacionados ao assunto e avalie bem a situação.
Reflita sobre o significado da paternidade e maternidade e a motivação da adoção, para que ela possa ser genuína, conscientizada e sustentada.
Tenha consciência de que adotar uma criança é o mesmo que gerar um filho, um gesto para a vida inteira.
Pense como seria a rotina com essa criança.
Lembre-se de que o percurso da relação afetiva entre pais e filhos não é fácil e que dificuldades podem ocorrer nesta adaptação.
Incremento
TJ-PR contrata novas equipes para atender postulantes à adoçãoNo Paraná, algumas comarcas careciam de equipes técnicas, sem psicólogos e assistentes sociais para o preparo dos postulantes à adoção. A informação é do juiz Fábio Ribeiro Brandão, dirigente da Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR). Ele completa que, para combater a defasagem, foram feitas novas contratações. No fim de abril, o presidente do TJ-PR, Miguel Kfouri Neto, assinou decreto de nomeação de 75 profissionais das áreas de Psicologia e Serviço Social aprovados em concurso público. Segundo o TJ, as nomeações representam um acréscimo de 80% às equipes existentes no estado. Está prevista ainda a contratação de mais 75 profissionais em 2013 e outros 75 em 2014, totalizando, ao fim do triênio, 225 novas nomeações.
Em 2008, Maria Luiza desenvolveu uma pesquisa de mestrado na Universidade de São Paulo (USP) para saber as motivações dos pais adotivos que abandonam a criança adotada. Chegou à conclusão de que muitas vezes ocorrem conflitos quando uma adoção é fortemente baseada em sentimentos ligados ao altruísmo. “A criança passa a ser vista de maneira muito idealizada, uma visão pouco realista e pouco consciente das dificuldades que podem ser encontradas.” Também podem surgir conflitos quando há a expectativa de que a adoção da criança ajude a resolver problemas pessoais, se existe dificuldade em lidar com as origens da criança ou se não ocorre uma aceitação plena da infertilidade do casal, completa a psicóloga.
Segundo o presidente da Associação dos Filhos Adotivos do Brasil, Ricardo Fischer, o abandono acontece pela falta de preparo das pessoas em saber o que é uma adoção. Fischer, que é filho adotivo e adotou duas crianças, afirma que uma adoção devolvida representa um processo mal realizado. A preparação para os que pretendem se habilitar a adotar está prevista na lei nacional de adoção (12.010, de 2009), mas, segundo Fischer, na prática ela não é feita em muitos casos pelo país.
No Paraná
De acordo com o juiz Fábio Ribeiro Brandão, dirigente da Coordenadoria da Infância e da Juventude do Tribunal de Justiça do Paraná, a exigência de preparação e o aprimoramento dos mecanismos de controle e verificação de quem pode ou não adotar têm reduzido as “devoluções”. Como juiz da infância, ele estima que as ações de abandono não ultrapassam 3% dos casos por ele atendidos. “A imensa maioria delas costuma ser exitosa.”
A presidente do Grupo de Apoio à Adoção Consciente, Halia Pauliv de Souza, também observa que a devolução diminuiu bastante com a preparação dos casais. “A solução está na paciência: os pais devem dar o tempo necessário à hora de esperar, à aceitação da criança e à substituição do desejo de gerar pelo de ser pai e mãe”, conclui.
Fonte: Gazeta do Povo
