ADOÇÃO MODERNA
A chamada adoção moderna aceita todas as motivações. Elas movem futurospais a vencer a burocracia da legislação, a longa espera e até opreconceito na busca por formar crianças felizes.
Ana Claudia Cruz e Thais Lazzeri
Os estímulos mais comuns para partir para a adoção são o desejo deconstruir um lar e o de fazer o bem a quem precisa. Não se trata deajuda humanitária, mas de sensibilidade social. Há alguns anos, essetipo de motivação não era bem aceito. Hoje vale qualquer adoção quegaranta a melhoria da qualidade de vida da criança que vive emdiferentes instituições. Dentro da nova visão, a prioridade deve ser orespeito à prerrogativa de a criança ter um lar, ser amada. "Quem temdireito a ter uma família é a criança", afirma Lidia Weber, psicóloga,autora de Pais e Filhos por Adoção no Brasil (Ed. Juruá). Ela não está sozinha nessa avaliação.
O advogado Rodrigo da Cunha Pereira afirma que a iniciativa dos famososé maravilhosa. Aqui, podemos citar o exemplo de Meg Ryan, feliz com umabebê chinesa; o casal Angelina Jolie e Brad Pitt, que tem a guarda deMaddox, cambojano, e Zahara, etíope; e por fim, Madonna, que decidiuadotar David, uma criança africana. Eles conseguem reunir as duascoisas: constituir uma família e ajudar as crianças. "E mais, elesajudam a estimular a adoção tardia e dos que não estão no padrão quetodos querem, um bebê branco com, no máximo, 3 meses", afirma Pereira.
Um bebê branco e com até 3 meses é justamente o perfil do requisitadona maioria dos processos adotivos no Brasil. Há uma busca por criançasque tenham semelhanças físicas com os futuros pais. Fazer dos laçosfísicos os biológicos, na tentativa de construir um vínculo pelaaparência, deixa casais por anos na fila de espera. Costuma-se dizerque a "gravidez" dura mais que nove meses. Trata-se de um cuidadodesnecessário, do ponto de vista da terapeuta familiar Maria TeresaMaldonado: "Laços de amor independem do de sangue". Essa situação,somada à burocracia criada pela legislação, são os fatores que maislimitam as adoções no país.
"As crianças mais velhas,certamente, passaram por experiências, positivas ou não, que nuncaserão apagadas. Por isso, podem testar os pais, para garantir se elesquerem mesmo ficar com elas. Mas isso acaba. Talvez nem aconteça", dizLidia Weber. Se, de um lado, a adoção tardia pode ter esse complicador,quem opta por bebês vai experimentar a fase da revelação.
Na pesquisa de Lidia para seu livro, a revelação tardia, a longo prazo,foi o maior problema diagnosticado. No contexto de adoção moderna, nãopode haver segredo. "O ideal é que a história seja sempre apresentada àcriança. Que os pais dêem respostas esclarecedoras e objetivas", diz.Algumas escolas, reconhecendo o movimento da adoção moderna, incluírama pauta nas aulas de reprodução humana. "Explicamos que, como os paisnão conseguiram tê-lo, buscaram alguém para fazer isso por eles e acriança adotada foi tão desejada e buscada como qualquer outra", afirmaKaren Kaufmann Sacchetto, pedagoga e diretora de escola.
Fonte: Revista Cerscer